O PLANEJAMENTO DOS TRANSPORTES NO CONTEXTO
DA LOGÍSTICA
O
CONCEITO DE LOGÍSTICA
A Logística pode ser definida como sendo o planejamento e
a operação dos sistemas físicos, informacionais e gerenciais necessários para
que insumos e produtos vençam condicionantes espaciais e temporais de forma
econômica.
Nota-se, assim, que a Logística não se atem aos aspectos
físicos do sistema (veículos, armazéns, rede de transportes, etc.). Os aspectos
informacionais e gerenciais, envolvendo processamento de dados,
tele-informática, processos de controle gerenciais, etc. fazem parte integrante
da análise logística.
A Logística, por outro lado, procura resolver problemas
de suprimento de insumos ao setor produtivo, de um lado, e de distribuição de
produtos acabados ou semi-acabados na outra ponta do processo de fabricação.
No lado dos insumos, pode-se mencionar, dentre outros, os
problemas ligados às fontes de suprimento (diversificação, preços, custos de
transporte, etc.), à política de estocagem, aos meios de transporte utilizados,
etc.
Na ponta oposta, que trata do produto acabado ou
semi-acabado, os principais problemas de logística referem-se à armazenagem,
processamento de pedidos, transferências, distribuição, etc.
Há, ainda, outros tipos de problemas logísticos gerais,
como é o caso da localização de instalações de armazenagem, processamento de
informações, etc., que merecem igualmente a atenção do analista.
Desta forma, de acordo como conceito apresentado, o
enfoque logístico implica em vencer condicionantes espaciais e temporais.
Esse aspecto é fundamental para se entender os conceitos envolvidos no moderno
enfoque dos problemas logísticos. Enquanto o transporte tradicional de
mercadorias cuida de vencer restrições espaciais, deslocando os produtos
dos pontos de produção para os centros de consumo, a Logística, no seu enfoque
moderno, não se restringe a isso. Ao contrário, as restrições temporais ocupam
hoje papel de destaque na resolução dos problemas. O aspecto temporal aparece
de várias formas, como, por exemplo, na exigência do cumprimento de prazos
rígidos para entrega dos produtos no destino, a exigência de níveis de
confiabilidade operacional, etc.
Um dos exemplos mais característicos das restrições
temporais nos problemas logísticos é da distribuição diária de um grande
jornal. Uma vez definidas e redigidas as matérias jornalísticas, o jornal é
impresso, estando pronto para a distribuição. Surge, então, o problema complexo
de levar o jornal para as bancas, para os assinantes e para pontos distantes do
País e do exterior.
Vê-se, desde logo, que não basta transportar o
jornal, da empresa jornalística até os pontos de consumo ou comercialização.
Isso porque o jornal diário perde sua finalidade informativa se não chegar aos
leitores a tempo de transmitir-lhes os fatos mais recentes. Jornal atrasado é
papel morto, sem serventia.
É necessário, portanto, que se organize um sistema de
distribuição eficiente em que o assinante, ou aquele que adquire o jornal na
banca, o receba na hora certa. Há, assim, um forte condicionante temporal no
processo, que exige um sistema de organização e distribuição bastante complexo,
envolvendo muito mais dificuldades e requisitos do que o mero deslocamento
(transporte) do produto.
Finalmente, na conceituação de Logística, pressupõe-se
que o objetivo final dos sistemas planejados e implementados segundo esses
princípios, seja o de se conseguir soluções econômicas, em que a preocupação
com custos, embora não sendo o critério único, ocupa papel de destaque.
São inúmeros os exemplos de aplicação dos conceitos
logísticos a problemas reais, quase sempre relacionados com os setores
industrial e comercial.
Tome-se, como exemplo, o problema do abastecimento de
peças, componentes e acessórios de uma indústria automobilística. A rede de
concessionárias precisa estar abastecida de forma a atender às revisões e
consertos dos veículos daquela marca, bem como vender as peças e componentes no
varejo. Para a empresa montadora, por outro lado, não basta o simples ato de
despachar as peças para os destinatários. A imagem de seus produtos ficará
prejudicada sensivelmente se os serviços de assistência técnica não forem
satisfatórios para seus clientes. A entrega das peças e componentes, no tempo
certo, é assim, um elemento fundamental no processo. Obviamente, os aspectos
ligados a custos (estoques, transporte, distribuição, controle, processamento,
etc.) são fundamentais e constituem, não somente neste exemplo como nos demais,
a espinha dorsal da avaliação de soluções alternativas.
Os problemas de Logística aparecem não somente na
distribuição dos produtos. No processo inverso, constituído pela coordenação do
recebimento dos insumos necessários à produção, há problemas relevantes que
devem ser igualmente equacionados. No exemplo da empresa jornalística, o
recebimento do papel de imprensa, de maneira a garantir um estoque adequado
para as contínuas edições, constitui problema que exige muito esforço de
coordenação e gerenciamento, objetivando maior racionalização do processo e
redução de custos, incluindo o papel, o transporte e as despesas de estocagem.
A Figura 2.1, apresentada a seguir, procura dar uma visão
do campo de atuação da moderna Logística. Hoje, a logística é entendida como a
integração tanto da administração de
materiais, como da distribuição física.
Fig.
2.1: Escopo da Logística Empresarial
Fonte:
BALLOU (1993)
No setor militar, o campo logístico sempre ocupou papel
relevante. Os pontos avançados de ataque e de defesa precisavam estar
adequadamente abastecidos de munição e provisões, sem o que as batalhas
dificilmente seriam ganhas.
O PAPEL DO TRANSPORTE NA ESTRATÉGIA LOGÍSTICA
Introdução
O transporte é uma das principais funções logísticas.
Além de representar a maior parcela dos custos logísticos na maioria das
organizações, tem papel fundamental no desempenho de diversas dimensões do serviço
ao cliente. Do ponto de vista de custos, representa, em média, cerca de 60%
das despesas logísticas, o que, em alguns casos, pode significar duas ou três
vezes o lucro de uma companhia, como é o caso, por exemplo, do setor de
distribuição de combustíveis.
As principais funções do transporte na Logística estão
ligadas basicamente às dimensões de tempo e utilidade de lugar. Desde os
primórdios, o transporte de mercadorias tem sido utilizado para disponibilizar
produtos onde existe demanda potencial, dentro do prazo adequado às
necessidades do comprador. Mesmo com o avanço de tecnologias que permitem a
troca de informações em tempo real, o transporte continua sendo fundamental
para que seja atingido o objetivo logístico, que é o produto certo, na
quantidade certa, na hora certa, no lugar certo ao menor custo possível. Além
disso, como ilustra a figura 2.2, bens no momento certo possibilitam maiores
preços.
Fig.
2.2: Bens no momento certo possibilitam maiores preços
Fonte:
BALLOU (1993)
Muitas empresas brasileiras vêm buscando atingir tal
objetivo em suas operações. Com isso, vislumbram na Logística, e mais
especificamente na função transporte, uma forma de obter diferencial
competitivo. Entre as iniciativas para aprimorar as atividades de transporte,
destacamse os investimentos realizados em tecnologia de informação, os quais
objetivam fornecer às empresas melhor planejamento e controle da operação,
assim como a busca por soluções multimodais que possibilitem uma redução
significativa nos custos. São inúmeros os exemplos de empresas com iniciativas
desse tipo, destacando-se entre elas Souza Cruz, Coca-Cola, Brahma, Martins,
Dow Química, entre outras.
Integração com outras funções logísticas
Um dos principais pilares da Logística moderna é o
conceito de Logística Integrada, que está representado na Figura 2.3. Por meio
desse conceito, as funções logísticas deixam de ser vistas de forma isolada e
passam a serem percebidas como um componente operacional da estratégia de
Marketing. Com isso, o transporte passa a ter papel fundamental em várias
estratégias na rede logística, tornando necessária a geração de soluções que
possibilitem flexibilidade e velocidade na resposta ao cliente, ao menor custo
possível, gerando assim maior competitividade para a empresa.
Entre
os principais “trade-offs” (compensações) que afetam a função transporte,
destacamse os relacionados ao Estoque e ao Serviço ao Cliente.
Fig.
2.3: Estrutura do conceito de Logística Integrada
Fonte:
FLEURY, at all (2000)
a)
Transporte x Estoque
O ponto central deste trade-off é a relação entre
políticas de transporte e de estoque. Dentro de uma visão não integrada, o
gestor de estoques possui comumente o objetivo de minimizar os custos com
estoque, sem analisar todos os custos logísticos. Este tipo de procedimento
impacta de forma negativa outras funções logísticas, como por exemplo, a
produção que passa a necessitar de uma maior flexibilidade (com lotes menores e
mais freqüentes, ocasionando um custo maior) e uma gestão de transporte
caracterizada pelo transporte mais fracionado, aumentando de uma forma geral o
custo unitário de transporte. É importante deixar claro, que esta política pode
ser a mais adequada em situações onde se utilizam estratégias baseadas no
tempo, como JIT, ECR, QR. Estas estratégias visam reduzir o estoque a partir de
uma visão integrada da Logística, exigindo da função transporte a rapidez e
consistência necessária para atender os tamanhos de lote e os prazos de
entrega. Além disso, em muitos casos a entrega deve ser realizada em uma janela
de tempo que pode ser de um turno ou até de uma hora.
Outra questão importante ligada a este trade-off está
associada a escolha de modais. Dependendo do modal escolhido, o transit time
poderá variar em dias. Por exemplo, um transporte típico de São Paulo para
Recife pelo modal rodoviário demora em torno de 5 dias, enquanto o ferroviário
pode ser realizado em cerca de 18 dias. A escolha dependerá evidentemente do
nível de serviço desejado pelo cliente, e dos custos associados a cada opção. O
custo total desta operação deve contemplar todos os custos referentes a um
transporte porta a porta mais os custos do estoque, incluindo o estoque em
trânsito. Para produtos de maior valor agregado pode ser interessante o uso de
modais mais caros e de maior velocidade.
b)
Transporte x Serviço ao Cliente
O Serviço ao Cliente é um componente fundamental da
Logística Integrada. Todas as funções logísticas vistas na figura 2.3
contribuem para o nível de serviço que uma empresa presta aos seus clientes. O
impacto do transporte no Serviço ao Cliente é um dos mais significativos e as
principais exigências do mercado geralmente estão ligadas à pontualidade do serviço
(além do próprio tempo de viagem), à capacidade de prover um serviço porta a
porta, à flexibilidade, no que diz respeito ao manuseio de uma grande variedade
de produtos, ao gerenciamento dos riscos associados a roubos, danos e avarias e
à capacidade do transportador oferecer mais que um serviço básico de
transporte, tornando-se capaz de executar outras funções logísticas. As repostas
para cada uma destas exigências estão vinculadas ao desempenho e às características
de cada modal de transporte, tanto no que diz respeito às suas dimensões estruturais,
quanto à sua estrutura de custos.
Classificação dos Modais de transporte
Os cincos modais de transporte básicos são o ferroviário,
o rodoviário, o aquaviário, o dutoviário e o aéreo. A importância relativa de
cada modal pode ser medida em termos da quilometragem do sistema, volume de
tráfego, receita e natureza da composição do tráfego. A tabela 2.1 resume a
estrutura de custos fixos-variáveis de cada modal, ao passo que a tabela 2.2 classifica
as características operacionais de cada modal quanto à velocidade,
disponibilidade, confiabilidade, capacidade e freqüência. Essas características
serão discutidas a seguir.
Fonte:
FLEURY at all (2000)
(a
menor pontuação indica a melhor classificação)
Fonte:
FLEURY at all (2000)
A
velocidade refere-se ao tempo decorrido de movimentação em uma dada rota,
também conhecido como transit time, sendo o modal aéreo o mais rápido de
todos. A disponibilidade é a capacidade que um modal tem de atender qualquer
par origemdestino de localidades. As transportadoras rodoviárias apresentam a
maior disponibilidade já que conseguem dirigir-se diretamente para os pontos de
origem e destino, caracterizando um serviço porta a porta. A confiabilidade
refere-se à variabilidade potencial das programações de entrega esperadas ou
divulgadas. Os dutos, devido ao seu serviço contínuo e à possibilidade restrita
de interferência pelas condições de tempo e de congestionamento, ocupam lugar
de destaque no item confiabilidade.
No Brasil ainda existe uma série de barreiras que impedem
que todas as alternativas modais sejam utilizadas da forma mais racional. Isto
é reflexo do baixo nível de investimentos verificado nos últimos anos com
relação à conservação, ampliação e integração dos sistemas de transporte.
Apesar de iniciativas como, por exemplo, o processo de concessão à iniciativa privada
de portos e ferrovias, pouca coisa mudou na matriz brasileira, conforme pode
ser visto na tabela 2.3. A forte predominância no modal rodoviário prejudica a
competitividade em termos de custo de diversos produtos, como é o caso das “commodities”
para exportação.
Fonte:
FLEURY at all (2000)
Impactos da Internet sobre o Transporte
A
Internet, bem como outras tecnologias de informação, têm não apenas gerado necessidades
específicas, mas também criados novas oportunidades para o planejamento, o controle
e a operação das atividades de transporte. Dentre estas necessidades e
oportunidades, poderíamos citar a crescente demanda por entregas mais
pulverizadas, o surgimento de portais de transporte e o potencial para
rastreamento de veículos em tempo real.
a) Pulverização
das entregas
• Entrega
direta pelos fabricantes:
Através
da Internet, tornou-se possível para fabricantes de produtos de elevado valor
agregado, como os computadores, a comercialização direta para os consumidores, eliminando
da cadeia de suprimentos a necessidade de intermediários como distribuidores e varejistas.
Anteriormente, o transporte de produtos entre fabricantes e seus principais
clientes era marcada por uma maior concentração e estabilidade nos embarques,
visto que os destinos dos clientes eram conhecidos e os mesmos procuravam
renovar seus estoques periodicamente. Nos EUA, a Gateway e a Dell dominam o
mercado de vendas diretas de computadores pessoais pela Internet. A
distribuição destes computadores é feita por transportadoras que possuem um
elevado grau de penetração em diversos mercados. Na gestão do transporte, cada
vez mais as empresas que realizam uma distribuição altamente pulverizada,
buscam sistemas como roteirizadores para auxiliá-las na estruturação de rotas.
O transporte é marcado por um curto tempo em trânsito (“transit time”) e
grande flexibilidade na entrega, feita normalmente entre 1 e 2 dias.
b)
Surgimento de portais de transporte
A
Internet também está proporcionando o surgimento de novos negócios virtuais
ligados à compra e venda de fretes. Na realidade, estão sendo estruturados
portais na Internet que fazem a intermediação entre transportadores e
embarcadores. Este tipo de modelo de negócio é caracterizado pela contratação
de transporte spot. Com isso, o portal permite articular a necessidade
de transporte de um embarcador, caracterizado pela origem, destino e o tipo de carregamento,
com a oferta disponível. Em outras palavras, o portal busca um transportador
que se interessa pelo transporte da carga, tentando ao mesmo tempo obter as
melhores condições para o embarcador.
c)
Rastreabilidade de carregamentos
Um
das grandes vantagens que a Internet oferece na melhoria da qualidade de
serviço é a possibilidade de rastrear carregamentos. Empresas de “courier”
(entregas), agências marítimas, transportadores rodoviários, ferroviários e
operadores logísticos estão utilizando cada vez mais a Internet para
disponibilizarem o status dos carregamentos para seus clientes. A Fedex,
um dos maiores “couriers” americanos com faturamento superior a US$ 13
bilhões, estruturou no início da década de 90 um sistema de acompanhamento do
pedido altamente sofisticado, recentemente beneficiado pela facilidade que a
internet propicia. De modo semelhante, empresas brasileiras, como a Varig Cargo,
também estão disponibilizando informações sobre o status da carga via internet.
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https://pt.scribd.com/doc/249566602/Apostila-o-Planejamento-Dos-Transportes-No-Contexto-Da-Logistica
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